❥ o penúltimo dia de 2013 podia ter
sido o meu último dia de vida*
*sobre o choque anafiláctico diz a
wikipédia “termina geralmente em morte caso não seja tratado”.
era a segunda noite das nossas férias
na aldeia de Galende, que já nos conhece tão bem, em Puebla de Sanábria. estávamos a preparar o
jantar e eu tinha acabado de comer um kiwi quando senti uma ligeira impressão
na garganta e comecei a espirrar ininterruptamente. retirei-me para a casa de
banho enquanto tentava perceber o que se estava a passar comigo, mas os
restantes sintomas não se fizeram tardar. o corpo todo a fervilhar, o estômago parecia
que estava a ser pontapeado, as pálpebras inchadas e foi quando senti a
glote a fechar que decidi pedir ajuda.
num minuto estávamos dentro do
carro a caminho do centro, mas mais rapidamente ainda comecei a sentir a língua
crescer, como se não fosse caber dentro da minha boca. ainda longe, com a respiração cada
vez mais fraca e a perder a visão, pedi que chamassem uma ambulância. ainda ouço
a mana dizer “vai demorar dez minutos”. naquele momento não acreditei que fossem
chegar a tempo e pensei que ia morrer. não chorei, não vi a minha vida em flash, apenas tentei continuar serena e continuar
a lutar para respirar.
a ambulância não terá demorado mais
de três-quatro minutos, mas já terei entrado nela ao colo por ter perdido os
sentidos. à chegada ao centro de saúde senti medo, não percebia o que me diziam, mas acabei socorrida por duas equipas fantásticas, levei
oxigénio, injecções de adrenalina e mais umas quantas drogas para reverter o
quadro clínico grave.
quando sai da sala para ser
transferida para o hospital, e o médico pediu aos meus manos para se despedirem
de mim, soltei a primeira lágrima ... sentia-me um farrapo, mas estava viva. no hospital seguiram-se exames,
mais medicação e uma noite em observação, com o mano sentado ali numa cadeira, outro amigo na sala de espera e o restante grupo, de coração
apertadinho de preocupação, a mais de 100 km dali.
algumas horas depois da alta, a comemorar a meia-noite, mas ainda abananada com tudo o que me tinha acontecido, não pedi nenhum desejo para 2014, apenas agradeci a felicidade de ter aquelas, as minhas pessoas do coração, ao meu lado. do novo ano espero o melhor, porque depois deste trambolhão só podem chegar coisas boas.
aos meus amigos o obrigada mais sentido e aos médicos ainda estou a tentar
encontrar as palavras (em espanhol é mais difícil) para lhes enviar a agradecer
o facto de me terem devolvido a vida e todo o carinho com que me trataram.